Nota preliminar
Esse texto faz parte do material de formação para toda a comunidade escolar da Escola Caminho do Meio (ECM). Os ritos cotidianos são aplicados a todo o momento, desde o “bom dia” ou “boa tarde” ao receber o aluno na sala até à despedida, passando plea roda, lanche, recreio e demais atividades escolares.
- Profa. Vanessa Cristina Francisco é coordenadora pedagógica da ECM.
- © da autora.
Rituais na escola
Profa. Vanessa Cristina Francisco
Fevereiro 2020
Tenho que não indagar do mistério para não trair o milagre. Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias. É uma grande aventura e exige muita coragem e devoção e muita humildade.
(Clarice Lispector –
Uma aprendizagem ou O Livro dos Prazeres)
A origem da palavra ritual é latim, ritus, que quer dizer “rito, costume, uso”. Os rituais acontecem em muitas tradições, especialmente em tradições dos povos originais e tradições religiosas. Muitos povos ritualizavam as mudanças e passagens: nascimentos, mortes, idade adulta, casamentos, plantações, colheitas, solstícios de verão e inverno. Basta pesquisarmos e encontraremos muitas celebrações de diferentes tradições e culturas.
Os rituais dos povos originais e de tradições religiosas remetem ao sagrado, à conexão com o que inspira reverência, divindade ou espiritualidade.
Nossa cultura ocidental não tem muita familiaridade com os ritos e muitas vezes há um estranhamento ao nos depararmos com cantos, gestos, preces, roupas e pinturas que por ventura testemunhemos em povos que conseguem manter vivos seus rituais.
Na Escola Caminho do Meio nos inspiramos em diversas experiências e tradições e compomos um cotidiano ritualizado: as passagens entre um momento e outro da tarde são ritualizados, as festas – que são rituais – marcam as passagens dos bimestres, a expansão e contração são conduzidas de forma ritualizada, oferecendo imagens e sons que orientam gestos e favorecem a direção do corpo, fala/ energia e mente.
Os rituais sacralizam o cotidiano, oferecem a pausa e o espaço e nos trazem para o momento presente. Os rituais também são uma forma de conduzir gentilmente a mente e treinar a presença.
Ao fechar uma cortina para começar o momento do descanso, ao acender uma vela para a história, ao cantarolar uma canção que convida para a roda, ao receber uma a uma das crianças na sala, com a luz apagada e preparada para uma pintura, ao cumprimentar cada uma das crianças, olhando nos olhos… Os rituais invocam nossa presença mais bela e plena que se manifesta num tempo sereno.
É importante que os rituais sejam verdadeiros e belos, “Quem experimenta a beleza está em comunhão com o sagrado” afirma Rubem Alves. Dessa forma, desde a organização da sala, dos espaços, do ritmo cotidiano, dos repertórios oferecidos e dos projetos, todo o ambiente possibilita o cultivo da relação com o sagrado, de forma ritualizada e significativa.